terça-feira, 5 de agosto de 2008
quinta-feira, 19 de junho de 2008
sábado, 7 de junho de 2008
quarta-feira, 4 de junho de 2008
segunda-feira, 26 de maio de 2008
Discriminação salarial entre homens e mulheres vai acabar no sector da cortiça
ELAS, MARIA VELHO DA COSTA
Elas são quatro milhões, o dia nasce, elas acendem o lume. Elas cortam o pão e aquecem o café. Elas picam cebolas e descascam batatas. Elas migam sêmeas e restos de comida azeda. Elas chamam ainda escuro os homens e os animais e as crianças. Elas enchem lancheiras e tarros e pastas de escola com latas e buchas e fruta embrulhada num pano limpo. Elas lavam os lençóis e as camisas que hão-de suar-se outra vez. Elas esfregam o chão de joelhos com escova de piaçaba e sabão amarelo e correm com os insectos a que não venham adoecer os seus enquanto dormem. Elas brigam nos mercados e praças por mais barato. Elas contam centavos. Elas costuram e enfiam malhas em agulhas de pau com as lãs que hão-de manter no corpo o calor da comida que elas fazem. Elas vêm com um cântaro de água à cinta e um molho de gravetos na cabeça. Elas limpam as pias e as tinas e as coelheiras e os currais. Elas acendem o lume. Elas migam hortaliça. Elas desencardem o fundo dos tachos. Elas passajam meias e calças e camisas e outra vez meias. Elas areiam o fogão com palha de aço. Elas calcorreiam a cidade a pé e à chuva porque naquele bairro os macacos são caros. Elas correm esbaforidas para não perder o comboio, o barco. Elas pousam o cesto e abrem a porta com a mão vermelha. Elas põem a tranca no palheiro. Elas enterram o dedo mínimo na galinha a ver se tem ovo. Elas acendem o lume. Elas mexem o arroz com um garfo de zinco. Elas lambem a ponta do fio de linha para virar a camisa. Elas enchem os pratos. Elas pousam o alguidar na borda da pia para aguentar. Elas arredam a coberta da cama. Elas abrem-se para um homem cansado. Elas também dormem.
2. REPRODUÇÃO DA FORÇA DE TRABALHO
Elas vão à parteira que lhes diz que já vai adiantado. Elas alargam o cós das saias. Elas choram a vomitar na pia. Elas limpam a pia. Elas talham cueiros. Elas passam fitilhos de seda no melhor babeiro. Elas andam descalças que os pés já não cabem no calçado. Elas urram. Elas untam o mamilo gretado com um dedal de manteiga. Elas cantam baixinho a meio da noite a niná-los para que o homem não acorde. Elas raspam as fezes das fraldas com uma colher romba. Elas lavam. Elas carregam ao colo. Elas tiram o peito para fora debaixo de um sobreiro. Elas apuram o ouvido no escuro para ver se a gaiata na cama ao lado com os irmãos não dá por aquilo. Elas assoam. Elas lavam joelhos com água morna. Elas cortam calções e bibes de riscado. Elas mordem os beiços e torcem as mãos, a jorna perdida se o febrão não desce. Elas lavam os lençóis com urina. Elas abrem a risca do cabelo, elas entrelaçam. Elas compram a lousa e o lápis e a pasta de cartão. Elas limpam rabos. Elas guardam uma madeixita entre dois trapos de gaze. Elas talham um vestido de fioco para uma boneca de papelão escondida debaixo da cama. Elas lavam as cuecas borradas do primeiro sémen, do primeiro salário, da recruta. Elas pedem fiado popeline da melhor para a camisa que hão-de levar para a França, para Lisboa. Elas vêm trazer um borrego à primeira barraca e ao primeiro neto. Elas poupam no eléctrico para um carrinho de corda.
3. PRODUÇÃO
Elas sobem para cima de um caixote, que ainda são pequenas para chegar à bancada de descamar o peixe. Elas mondam, os dedos tolhidos de frieira e urtiga. Elas fazem descer a lâmina de cortar o coiro. Elas sopram nos dedos a aquecê-los, esfregam os olhos, voltam a pôr as mãos por detrás da lente a acertar os fios da matriz do transístor. Elas espremem as tetas da vaca para o balde apertado entre as pernas. Elas fecham num dia as pregas de papel de mil pacotes de bolacha. Elas acertam em duzentos casacos a postura da manga onde cravar o botão. Elas limpam o suor da testa com a manga e a foice rebrilha ao sol por cima da cabeça e da seara. Elas ouvem a matraca de dez teares enquanto a peça cresce diante, o fio amandado de braço a braço aberto. Elas cortam os dedos nas primeiras vinte cinco latas até calejar bem. Elas fazem a agulha passar para cá e lá em cruz na tela do tapete. Elas vigiam a última fileira de garrafas, caladas, à espera da sirene. Elas carregam o cesto de azeitona à cabeça já sem cantar, até que o sol se ponha.
4. SERVIÇOS
Elas carregam no botão da caixa e fazem quinhentos trocos miúdos. Elas metem a cavilha, dizem outro número e passam a vigésima chamada. Elas mexem panelões que lhes chegam à cinta. Elas descem doze caixotes de lixo já noite fechada. Elas fazem todas as camas e despejos de uma família alheia. Elas picam bilhetes metidas numa caixa de vidro. Elas batem à máquina palavras que não entendem. Elas arquivam por ordem alfabética duas mil fichas e vinte e cinco ofícios. Elas vão outra vez buscar a gaveta das luvas para o balcão a ver se há aquele verde. Elas aspiram do pó antes das nove doze assoalhadas e cento e dez degraus de alcatifa. Elas entram na praça manhã cedo, já vindas da lota ajoujadas com o peixe para as bancadas. Elas acertam as bainhas de joelhos, a boca cheia de alfinetes. Elas põem trinta e duas arrastadeiras e tiram sessenta temperaturas. Elas pintam unhas de homem. Elas guardam sanitas e fazem renda em pequenos cubículos sem janela.
5. TRANSMISSÃO DE IDEOLOGIA
Coisas que elas dizem:
- Se mexes aí, corto-ta.
- Isso não são coisas de menina.
- O meu homem não quer.
- Estuda, que se tiveres um empregozinho sempre é uma ajuda.
- A mulher quer-se é em casa.
- Isto já vai do destino de cada um.
- Deus não quiz.
- Mas o senhor padre disse-me que assim não.
- Dá um beijinho à senhora que é tão boazinha para a gente.
- Você sabe que eu não sou dessas.
- Estás a dar cabo do teu futuro com uns e com outros.
- Deixa-te disso, o que é preciso é sossego e paz de espírito.
- Comprei uns jeans bestiais, pá.
- Sempre dá para uma televisão daquelas novas.
- Cada um no seu lugar.
- Julgas que ele depois casa contigo?
- Sempre há-de haver pobres e ricos.
- Se tu gostasses de mim não andavas com aquela cabra a gastar o nosso.
- Põe o comer ao teu irmão que está a fazer os trabalhos.
- Sempre é homem.
Elas olham para o espelho muito tempo. Elas choram. Elas suspiram por um rapaz aloirado, por duas travessas para o cabelo cravejadas de pedrinhas, um anel com pérola. Elas limpam com algodão húmido as dobras da vagina da menina pensando, coitadinha. Elas escondem os panos sujos de sangue carregadas de uma grande tristeza sem razão. Elas sonham três noites a fio com um homem que só viram de relance à porta do café. Elas trazem no saco das compras uma pequena caixa de plástico que serve para pintar a borda dos olhos de azul. Elas inventam histórias de comadres como quem aventura. Elas compram às escondidas cadernos de romances em fotografias. Elas namoram muito. Elas namoram pouco. Elas não dormem a pensar em pequenas cortinas com folhos. Elas arrancam os primeiros cabelos brancos com uma pinça comprada na drogaria. Elas gritam a despropósito e agarram-se aos filhos acabados de sovar. Elas andam na vida sem a mãe saber, por mais três vestidos e um par de botas. Elas pagam a letra da moto ao que lhes bate. Elas não falam dessas coisas. Elas chamam de noite nomes que não vêm. Elas ficam absortas com a mola da roupa entre os dentes a olhar o gato sentado no telhado entre as sardinheiras. Elas queriam outra coisa.
7. REVOLUÇÃO
Elas fizeram greves de braços caídos. Elas brigaram em casa para ir ao sindicato e à junta. Elas gritaram à vizinha que era fascista. Elas souberam dizer salário igual e creches e cantinas. Elas vieram para a rua de encarnado. Elas foram pedir para ali uma estrada de alcatrão e canos de água. Elas gritaram muito. Elas encheram as ruas de cravos. Elas disseram à mãe e à sogra que isso era dantes. Elas trouxeram alento e sopa aos quartéis e à rua. Elas foram para as portas de armas com os filhos ao colo. Elas ouviram falar de uma grande mudança que ia entrar pelas casas. Elas choraram no cais agarradas aos filhos que vinham da guerra. Elas choraram de ver o pai a guerrear com o filho. Elas tiveram medo e foram e não foram. Elas aprenderam a mexer nos livros de contas e nas alfaias das herdades abandonadas. Elas dobraram em quatro um papel que levava dentro uma cruzinha laboriosa. Elas sentaram-se a falar à roda de uma mesa a ver como podia ser sem os patrões. Elas levantaram o braço nas grandes assembleias. Elas costuraram bandeiras e bordaram a fio amarelo pequenas foices e martelos. Elas disseram à mãe, segure-me aqui nos cachopos, senhora, que a gente vai de camioneta a Lisboa dizer-lhes como é. Elas vieram dos arrabaldes com o fogão à cabeça ocupar uma parte de casa fechada. Elas estenderam roupas a cantar, com as armas que temos na mão. Elas diziam tu às pessoas com estudos e aos outros homens. Elas iam e não sabiam para aonde, mas que iam. Elas acendem o lume. Elas cortam o pão e aquecem o café esfriado. São elas que acordam pela manhã as bestas, os homens e as crianças adormecidas.
Dezembro de 1975
in CRAVO, MARIA VELHO DA COSTA, MORAES EDITORES, 1976
domingo, 25 de maio de 2008
Método Chinês
terça-feira, 29 de abril de 2008
quinta-feira, 17 de abril de 2008
A mulher que matou os peixes, de Clarice Lispector
"Essa mulher que matou os peixes infelizmente sou eu. Mas juro a vocês que foi sem querer. Logo eu! Que não tenho coragem de matar uma coisa viva! Até deixo de matar uma barata ou outra. Dou minha palavra de honra que sou pessoa de confiança e meu coração é doce: perto de mim nunca deixo criança nem bicho sofrer.” Clarice Lispector
quarta-feira, 16 de abril de 2008
As palavras mais difíceis de traduzir
A lista completa das dez palavras consideradas de mais difícil tradução:
1. “Ilunga” (tshiluba) - uma pessoa que está disposta a perdoar quaisquer maus-tratos pela primeira vez, a tolerar o mesmo pela segunda vez, mas nunca pela terceira vez.
2. “Shlimazl” (ídiche) - uma pessoa cronicamente azarada.
3. “Radioukacz” (polonês) - pessoa que trabalhou como telegrafista para os movimentos de resistência o domínio soviético nos países da antiga Cortina de Ferro.
4. “Naa” (japonês) - palavra usada apenas em uma região do país para enfatizar declarações ou concordar com alguém.
5. “Altahmam” (árabe) - um tipo de tristeza profunda.
6. “Gezellig” (holandês) - aconchegante.
7. Saudade (português)
8. “Selathirupavar” (tâmil, língua falada no sul da Índia) - palavra usada para definir um certo tipo de ausência não-autorizada frente a deveres.
9. “Pochemuchka” (russo) - uma pessoa que faz perguntas demais.
10. “Klloshar” (albanês) - perdedor.
As palavras mais votadas em inglês, como as mais difíceis de traduzir foram:
As dez mais votadas no Inglês foram:
1. Plenipotentiary - embaixador ou enviado especial investido com plenos poderes.
2. Gobbledegook – linguagem caracterizada por circunlóquios e gírias, usualmente difícil de ser entendida.
3. Serendipity – Sorte de encontrar coisas que não estavam sendo procuradas.
4. Poppycock - “Nonsense”
5. Googly – Em cricket, uma bola lançada que gira em um sentido diferente do esperado.
6. Spam – vários significados: tipo de carne enlatada, um sketch cómico método de dança, mensagens eletrónicas não solicitadas e indesejadas
7. Whimsy – a propriedade de agir mais por capricho do que pela razão.
8. Bumf – papel higiénico, fardo de papel inutilizável.
9. Chuffed – muito satisfeito.
10. Kitsch – de questionável valor estético; excessivamente sentimental, exagerado ou vulgar.
segunda-feira, 7 de abril de 2008
sexta-feira, 21 de março de 2008
A Porta Branca, Fiama Hasse Pais Brandão
A Porta Branca, Fiama Hasse Pais Brandão
Por detrás desta porta,
uma de todas as portas que para mim se abrem e se fecham,
estou eu ou o universo que eu penso.
Deste meu lado, dois olhos que vigiam
os fenómenos naturais, incluindo a celeste mecânica
e as sociedades humanas, sedentárias e transumantes.
Mas podem os olhos fazer a sua enumeração,
e pode o pensado universo infindamente ir-se,
que para mim o que hoje importa
é aquela olhada vaga porta.
Que ela seja só como a vejo, a porta branca,
com duas almofadas em recorte,
lançada devagar sobre o vão do jardim,
onde o gato, por uma fenda aberta
pela sua pata, tenta ver-me,
tão alheio a versos e a universos.
sábado, 15 de março de 2008
Contacto
O regresso...
Os dias 13 e 14 de Março serão sempre lembrados pelas Brunas, pelo Rui, pela D. Teresa e pela Ana Sofia (irmã do Rui).
A convite do programa Contacto da Sic, o Rui passou uma tarde de sonho no Oceanário. Quem lá esteve diz que as suas características gargalhadas ecoavam no edifício.
Na sexta, os cinco estiveram no Contacto à conversa com a Rita Ferro e o Nuno Graciano. Falou-se do Ler é Preciso, da Helpwrite, dos desenhos do Rui e da prof. Henriqueta.
Em breve, as Bruna's deixarão aqui o seu testemunho.
Animação
domingo, 9 de março de 2008
Semana da Leitura | Dia 7
Na sexta-feira, dia 7, apresentámos a nossa leitura de O Aquário às Escolas da Corujeira, Falcão e Eb2,3 do Cerco. Ao longo deste mês e meio de preparativos contámos com a colaboração do prof. Rui Santos e do nosso colega Rui.
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008
domingo, 10 de fevereiro de 2008
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008
falta pouco
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sábado, 2 de fevereiro de 2008
Romulus e o outro
"Muita gente quando vê um deficiente não sabe como tocar-lhe. Decidimos, por isso, começar por nos tocarmos.” Conhecido sobretudo como intérprete das criações da Companhia Paulo Ribeiro, Romulus Neagu apresenta assim o ponto de partida de O Ensaio de um Eros Possível, dueto entre o bailarino romeno e José António Correia, doente com paralisia cerebral. Profundamente interessado num “corpo humano, exposto e frágil”, Neagu tem desenvolvido nos últimos anos projectos na área da dança com grupos específicos, como idosos, imigrantes e pessoas com deficiências. Com A Invisibilidade das Pequenas Percepções, o coreógrafo aprofunda esse trabalho imensamente delicado e corajoso, promovendo agora o encontro no palco de um bailarino profissional, José António Correia, uma jovem proveniente de uma instituição de solidariedade social e o músico Ulrich Mitzlaff. Fruto de um longo trabalho que envolve a Associação Portuguesa de Paralisia Cerebral e instituições de acolhimento de menores da cidade de Viseu, esta nova criação toma de empréstimo elementos da psicologia e da psicoterapia, fazendo da dança uma transgressiva estratégia terapêutica, mas sobretudo um espaço efectivo – também afectivo – de encontro de corpos e identidades. A par deste díptico, o TeCA exibe um video-documentário que devolverá ao público a intensa experiência de criação de um destes objectos performativos, saudavelmente marginais na esfera da produção coreográfica nacional."
Sexta-feira, 21.30, TeCA, TEATRO CARLOS ALBERTO
quarta-feira, 30 de janeiro de 2008
DAS AMIGAS PARA O RUI - um reportagem no Jornal de Notícias
Das amigas para o Rui
Virgínia Alves, Alfredo Cunha
O Rui utilizava um boneco esponjoso, mas não era eficaz. Por isso, as jovens criaram um adaptador feito com uma esponja dura."Tem o formato certo para o Rui agarrar e utilizar a caneta, a esponja é dura porque tem muita força e teria que ser de um material resistente", explicaram as responsáveis pelo projecto. No entanto, e como qualquer outra inovação, esta também passa por diferentes fases de desenvolvimento para a melhorar."Com o tempo percebemos que era preciso criar algo que evitasse que a caneta caísse. Criamos um aplicador que fica preso na caneta e também no pulso do Rui. Assim nunca cai ao chão", disse Bruna Maciel. O projecto da caneta especial ganhou o primeiro prémio do CATIM e foi apresentado no Europarque, em Santa Maria da Feira. Nessa mostra foram expostos trabalhos realizados nos centros tecnológicos de todo o país.
O trabalho das duas Brunas, da Filipa e do Ricardo foi eleito como o melhor projecto e recebeu o primeiro prémio, atribuído pelo Ministério da Indústria."Foram prémios em dinheiro, ao todo 950 euros, que dividimos entre nós e com o Rui, claro. Se não fosse ele não havia projecto nem prémios", contou Bruna Lopes.O plano da caneta não está, no entanto, concluído. "Estamos a tentar dar-lhe outra visibilidade, para que chegue a mais pessoas e temos contado com vários apoios", adiantou Paula Cruz , a professora que acompanhou sempre o trabalho.
in Jornal de Notícias, 29 de Janeiro de 2008
domingo, 27 de janeiro de 2008
Na biblioteca da Corujeira
Registos gentilmenbte cedidos pela professora Elisa Alves das nossas animadoras em acção. Quem lá esteve, gostou muito! A professora Dárida que o diga. Os meninos do 2º ano da Escola da Corujeira também estão de parabéns, não só pelo trabalho, mas também pelos poemas que recitaram.